segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Escrever

Segundo a autora Andrea Vieira Zanella, toda pesquisa se objetiva em uma escrita que, tal como um poliedro, apresenta variadas faces: o percurso da investigação e seus resultados; a problemática que a provocou e as contribuições do pesquisador; o referencial teórico que modula o olhar do pesquisador para a realidade investigada e as tensões que essa realidade apresenta a esse referencial; as escolhas teórico-metodológicas e seus efeitos éticos-estéticos-políticos.

Essas e outras tantas faces são constitutivas da escrita da pesquisa e constituídas via intenso investimento do pesquisador em narrar um processo que, uma vez objetivado em palavras escritas nas telas do computador, é reinventado. A escrita da pesquisa não é, nesse sentido, posterior ao processo de pesquisar, posto que é uma condição do outro. "O pensamento não se expresa na palavra, em realidade se realiza nela". Do mesmo modo, a escrita da pesquisa não é mera expressão do processo de pesquisar, mas o seu fundamento e condição para sua reinvenção, bem como do próprio pesquisador.

Tal afirmação se assenta na compreensão de que escrever não é apenas transpor para a tela do computador um pensamento prévio: ao escrever, os pensamentos se (trans)formam e, nesse movimento, transforma-se o próprio escritor, seus pensamentos, suas ideologias. Nesse processo ganha destaque o distanciamento que a palavra escrita possibilita à pessoa que escreve em relação a sua própria produção. Escrita da pesquisa, desse modo, é muito mais que relato: é narrativa da relação de quem escreve/pesquisa com a situação investigada que possibilita sua reinvenção.

A escrita da pesquisa é, pois, como um poliedro translúcido que reflete e refrata a pesquisa e o pesquisador. É discurso, é criação de seu autor a recriar a realidade em foco. Escrita pretensamente precisa, inexoravelmente aberta à polissemia dos signos e à imprecisão da leitura, posto que às palavras proferidas o leitor, apresenta contrapalavras que podem vir a se objetivar em um outro texto a engendrar leituras outras, e outros textos, e outras leituras, numa infindável dialogia.

Cabe destacar, como palavra que não se apresenta como última, mas como convite a outras e outras, a importância de se reinventar o escrever de modo a considerar o leitor contemporâneo e suas necessidades. Uma outra escrita de pesquisa, não reificada que requer uma prática de pesquisa outras, atenta ás tensões entre as variadas vozes sociais que participam do debate contemporâneo sobre o conhecimento historicamente produzido ontem e hoje, bem como sobre os horizontes plurais do próprio processo de produção de novos conhecimentos.




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